Opinião

A oração infalível ‘Senhor Jesus Cristo, tenha piedade de mim’

Muitas vezes, vivemos, trabalhamos, estudamos ou realizamos tantas atividades que podemos considerar boas, mas o nosso coração parece frio e nossa mente dispersa. Vivemos, mas parece que o tempo corre e nos sentimos vazios, insatisfeitos ou tristes. Mesmo quem dedica seu tempo à Igreja e às coisas de Deus não está livre dessa sensação de que nada nos satisfaz profundamente ou suficientemente. Muitos, então, pensam que quanto mais fizerem e ocuparem seu tempo, mais vezes se sentirão melhor. Mas é em vão: apenas paramos um pouco, no fim de semana ou à noite, por exemplo, e o vazio preenche o espaço. Essa sensação é ruim e tentamos fugir dela o máximo possível, ocupando o nosso tempo com as coisas externas. O celular ou a televisão são bons instrumentos para isso, mas, em um momento ou outro, o vazio nos alcança, denunciando que algo está errado. Para aqueles que se consagraram, isso é muito mais evidente do que para aqueles que têm família, sobretudo com filhos pequenos, porém, mais cedo ou mais tarde, para todos, se pararmos um pouco, o gosto ruim do vazio e da insuficiência das coisas bate à nossa porta com força e invade o nosso interior. Nesse momento, é inevitável, para quem reflete um pouco, pensar que há algo errado e que a realidade externa está errada e algo precisa mudar ou que o problema sou eu, ou pior, que o problema são os outros (que atrapalham a minha vida).

O que falta realmente? Os antigos monges, já no início do Cristianismo, ensinavam que o que falta é a experiência de uma ‘presença no coração’, de um relacionamento direto com Jesus, de uma conversa constante com Ele; pois apenas a companhia d’Ele e somente Ele é a medida certa para o coração humano. Diziam que só a convivência constante com Ele, que acontece por meio da “oração interior”, pode trazer felicidade plena.

Para eles, a exortação de Jesus “eu sou o caminho, a verdade e a vida” significava viver com Ele, conviver com Ele antes de tudo interiormente, para então saber d’Ele como se mover, agir e reagir. Nada nem atividade alguma pode substituir adequadamente e de forma suficiente o relacionamento pessoal e direto com Cristo e seu Espírito que, se deixarmos, quer vir habitar em nós. Como nos explica São Paulo: “Ou não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, proveniente de Deus, e que não sois de vós mesmos?” (1Cor 6,19)

Muitas vezes e de muitos modos, pertencer à Igreja nos últimos séculos se resumiu em fazer coisas pela Igreja, mas isso é muito errado, pois deixa o coração inquieto e insatisfeito, e acabamos por perder Jesus. Ele é a cereja do bolo. Não podemos reduzir o Cristianismo a práticas exteriores: apenas ao ir à Igreja, frequentar uma paróquia, trabalhar numa obra social, ou ajudar a construir uma comunidade. Tudo isso é necessário, mas não suficiente

Em sua busca de Deus e da felicidade, os monges descobriram uma forma de rezar que eles garantem infalível e que responde ao imperativo de Cristo “é preciso orar sem cessar”. Essa forma de oração praticada intensamente no monaquismo, especialmente naquele oriental, ensina que é preciso repetir constantemente, até se tornar uma segunda natureza “Senhor Jesus Cristo, tenha piedade de mim.” Essa simples oração consiste, portanto, em invocar incessantemente o nome do Senhor: sentado ou em pé, à mesa ou trabalhando, andando na rua, no metrô ou no ônibus, em todos os momentos e ocasiões, em todos os lugares e o tempo todo (“Relatos de um Peregrino Russo”, editora Vozes). Quem seguir esse conselho monástico e milenar descobrirá que a invocação do nome de Jesus nos protegerá, colocar-nos-à no lugar justo e nos dará o pensamento certo e o sentimento bom em cada instante ou em cada momento. Quanto mais invocarmos Jesus em nosso íntimo, mais experimentaremos uma paz e felicidade indescritível, que nada nem ninguém nos pode tirar, e descobriremos, cheios de gratidão, que nosso inigualável amigo veio fazer-nos companhia perene. Nunca mais estaremos sós nem vazios; e se batermos a cabeça, Ele logo vem em nosso socorro, basta que o chamemos.

Ana Lydia Sawaya é professora da Unifesp, fez doutorado em Nutrição na Universidade de Cambridge, foi pesquisadora visitante do MIT e é conselheira do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP
 

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