Opinião

A Igreja e o giro ético-ontológico da sociedade contemporânea

No final do século XIX e início do XX, a sociedade presenciou um movimento de mudança no campo das ideias. De um lado, havia uma crítica às ideias metafísicas (Deus, realidade, homem, bem, justiça etc.) e, do outro, um pragmatismo ético, em grande medida guiado pela noção de que os “fins justificam os meios”. As consequências desse pragmatismo foram as ditaduras socialistas, o terror representado pelo nazi-fascismo e a alienação oriunda do liberalismo. 

Naquele momento, havia uma ânsia pelo novo, o novo a qualquer custo. Por causa disso, até mesmo o uso da palavra “deus”, fora do contexto das religiões, era visto com pessimismo. Porém, nem tudo foi crítica. Tratou-se de um momento histórico, responsável por exemplo pelo desenvolvimento da filosofia analítica, pela pesquisa no campo da linguagem, pelo desenvolvimento de novos modelos na lógica e na semântica. 

Na segunda fase do século XX, viu-se que a ânsia pelo novo havia esfriado, que havia um repensar da crítica à metafísica. Já no final do século XX, a ânsia pelo novo passava por um claro momento de decadência e até mesmo de abandono. 

Chegamos às primeiras décadas do século XXI e, ao contrário do século XX, é um momento marcado, dentre outros fatores, pelo renascimento do Sagrado, pela revalorização da Liturgia, pelo retorno dos problemas clássicos da Filosofia e por um repensar ético, mais profundo, sobre o ser humano. 

Esse retorno dos problemas clássicos e o repensar ético está sendo chamado, até o presente momento, de “giro ético-ontológico” da sociedade contemporânea. Os problemas que, por razões diversas, o pensamento ocidental achava que estavam superados ou mortos estão de volta à pauta das discussões. Problemas como a existência ou como encontrar a Deus? O sentido da realidade? O que é a justiça? O que é ou como praticar a caridade? No entanto, esse retorno não é puramente abstrato, distante dos problemas reais e do cotidiano do ser humano. Trata-se de um retorno pautado num debate ético sobre a mais nobre missão do ser humano na sociedade e como o mesmo homem, fundamentado numa consciência ética, poderá melhorar o seu próprio cotidiano, preservar a natureza e contribuir com o desenvolvimento do planeta Terra e até mesmo do cosmo.

É dentro desse contexto que a Igreja é convocada para ajudar, incentivar e impulsionar o giro ético-ontológico da sociedade contemporânea. Existem várias formas de a Igreja se fazer presente, viva, dentro do atual renascimento dos problemas metafísicos e éticos. No entanto, vamos apresentar apenas duas formas de participação. 

A primeira forma é a Igreja, por meio de sua rede de universidades, centros de estudos, seminários, mosteiros e conventos, incentivar e participar diretamente dos debates em torno do giro ético-ontológico. Essa participação deverá ocorrer por meio do intercâmbio da tradição da Igreja – da patrística, passando pela Idade Média, até chegar à sociedade contemporânea, alicerçada em nomes como Santo Agostinho e Santo Tomás de Aquino –, com os dilemas, problemas, conflitos e desesperos do mundo e do ser humano. A Igreja tem que ser portadora da mensagem ética, incentivadora do debate sobre os temas metafísicos mais caros ao ser humano.  

A segunda forma é a Igreja ser voz de moderação dentro do giro ético-ontológico. Ela precisa guiar o debate para evitar os fanatismos, os exageros, a radicalização. O giro ético-ontológico precisa ser guiado pelo bom senso.
 

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