Editorial

A ideologia de gênero

Nos últimos anos, com estranha urgência, a ideologia de gênero — a ideia de que os sexos masculino e feminino não existem, mas são apenas construções sociais e culturais — se propagou em escala mundial. O pretexto para justificar tamanha pressa é a luta contra a discriminação das minorias sexuais, reunidas sob a sigla LGBT.

Ora, a luta contra qualquer forma de discriminação é justa e merece nosso empenho, mas, no caso da ideologia de gênero, o discurso para justificá-la esconde as reais intenções dos seus defensores, bem como as gravíssimas consequências  que provocará. 

Para compreender a ideologia de gênero, precisamos voltar às primeiras décadas do século XX, quando ela começa a surgir, ainda que de forma indireta, no discurso de feministas, como Simone de Beauvoir, para quem a gravidez é uma função biológica limitadora da autonomia feminina, pois cria laços, entre mães e filhos, que servem apenas para determinar um papel social às mulheres, papel em que o próprio amor materno, segundo essa perspectiva anticristã, é somente uma invenção, um mito construído pela sociedade. 

A ideologia de gênero também se encontra nas políticas de controle populacional, parte significativa delas impulsionada por fundações, como a Rockefeller e a Ford - que se transformaram em ardorosas promotoras do aborto. No substrato desses planos, sempre existiu não só o desejo de controlar a natalidade, mas o ímpeto de alterar o comportamento das pessoas e, assim, modificar a estrutura social. 

É no âmbito dessas experiências sociais que o mau feminismo arrancou as mulheres da vida familiar, com o discurso de que assim seriam iguais aos homens, negando a riqueza das características que lhes são próprias, ao mesmo tempo em que as condena a uma sexualidade de consumo rápido, desvinculada do amor e de qualquer forma de compromisso, tornando-as  objetos descartáveis.

Não satisfeito com esse mal, o mau feminismo exacerbou sua ruptura com a natureza, com a verdade irrefutável da biologia e da Lei de Deus, e agora afirma que a sexualidade é apenas discurso, que os sexos formam somente um “constructo” social. 

Mas, voltemos ao início: por que, com a desculpa de acabar com a discriminação dos homossexuais, devemos ensinar às crianças e aos jovens que o sexo não existe, que as características biológicas não são determinantes? 

A resposta é tão simples quanto diabólica: a ideologia de gênero combate a realidade, porque seu objetivo é desconstruir e anular, desde a infância, a consciência que precisamos ter da nossa própria personalidade. Sem autoconsciência, somos manipulados pelos demagogos e populistas — e pelo capitalismo, que depende, numa constante vertigem, de consumidores insaciáveis e trabalhadores cada vez mais produtivos. 

Verdadeira “ambivalência doentia”  - como a define o Cardeal Robert Sarah -, a ideologia de gênero, criada pelos marxistas, serve ao capitalismo. Ela une esses dois grupos que necessitam de uma sociedade sem identidade própria, entregue à permissividade sexual, de zumbis, cuja consciência, fragmentada, estará pronta a ser escrava do mercado, dos partidos e dos governos.
 

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