Liturgia e Vida

A força do perdão

Quantas vezes devemos perdoar? Sete vezes parece uma quantia razoável.  É preciso um pouco mais, diz Jesus. Setenta vezes sete é um número bom, porque significa sempre.

A pergunta foi feita por São Pedro, como lemos no Evangelho. Ao dizer “sete vezes”, ele se julgava bastante generoso. Jesus diz que é preciso perdoar sempre e conta a história dos dois devedores. Um, que devia muito, teve sua dívida perdoada pelo credor, enquanto ele mesmo não foi capaz de perdoar quem lhe devia bem menos. Tomando conhecimento do ocorrido, o credor mandou punir severamente o devedor perdoado que não perdoou quem lhe devia. Assim, diz Jesus, “o meu Pai que está nos céus fará convosco, se cada um não perdoar de coração ao seu irmão”. Portanto, se quisermos ser perdoados por Deus, quando formos por Ele julgados no dia da nossa morte, devemos perdoar o nosso próximo enquanto estamos nesta terra.

No mesmo Evangelho de Mateus, ao ensinar o Pai-Nosso, Jesus conclui: “Se perdoardes aos homens os seus delitos, também o vosso Pai celeste vos perdoará; mas se não perdoardes aos homens, o vosso Pai também não perdoará os vossos delitos” (Mt 6, 14-15).

O perdão se coloca entre a impunidade e a retaliação. A retaliação paga com a mesma moeda e se assemelha à vingança. A impunidade não pune e se assemelha à aprovação, embora o simples punir também se aproxime da vingança. O castigo infligido ao malfeitor traria satisfação a quem foi ofendido. O perdão, como vem de Deus, é criativo e construtivo. É uma palavra que produz um acontecimento, à semelhança do “faça-se a luz, e a luz se fez”. O perdão é sopro do Espírito que penetra os ossos ressequidos e lhes dá vida. No dia da ressurreição, Jesus soprou sobre os discípulos reunidos e lhes disse: “Recebam o Espírito Santo. Aqueles a quem perdoardes os pecados, eles lhes serão perdoados; aqueles aos quais retiverdes, eles lhes serão retidos” (Jo 20, 22-23). Se perdoarem, o pecado desaparece. Se não perdoarem, o pecado fica retido. O melhor, então, é perdoar sempre para que se tire o pecado do mundo.

O sopro do Espírito, que perdoa, põe o ser humano em movimento, devolve-lhe a vida e devolve-o à vida. O pecado, que permanece, paralisa. Enquanto o perdão não acontece, a luz não brilha e o frio paralisa o coração. O sopro do perdão traz consigo o calor que anima.

“Rancor e raiva são coisas detestáveis”, diz o Eclesiástico. E acrescenta: “Se alguém guarda raiva contra o outro, como poderá pedir a Deus a cura?” É trabalho do cristão introduzir o perdão no mundo. 
 

Cônego Celso Pedro

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