Opinião

A força do diálogo entre leigos, presbíteros e epíscopos

O Papa Francisco tem ressaltado constantemente a importância do diálogo para se chegar à verdade. É famosa sua frase: “A verdade é uma relação”. E, na esteira do Concílio Vaticano II, chama a atenção para um olhar mais sinodal dentro da Igreja que muito bem se pode aplicar à relação entre leigos, presbíteros e epíscopos. 

Os últimos acontecimentos que relatam várias críticas de leigos ao encontro das CEBs e à própria CNBB, veiculados nas redes sociais, indicam a todos os que amam a Igreja a urgência do diálogo.

A primeira coisa que se pode dizer é que os leigos que gastam tempo (e dinheiro) e vem a público chamar a atenção sobre alguma atividade da Igreja se interessam verdadeiramente por ela. A segunda coisa que se pode dizer é que para todos a caridade deve impelir a ação. Em primeiro lugar, aos mais velhos e mestres cabe buscar o diálogo, a acolhida ao desejo de intervir, exortar, e até se pode dizer, de alguma forma, equivocada ou não, corrigir. Por isso, é razoável que parta dos mestres e pastores um primeiro movimento de acolhida e abertura.

Quando há fortes críticas, há algo a ser mudado, aprofundado, ou mesmo explicitado. Seria uma grande perda para a Igreja e seus pastores a atitude defensiva ou superficialmente condenatória. A caridade, ao contrário, pede o encontro, a interação, a busca de diálogo. Só é possível o verdadeiro diálogo para quem tem certeza que o único bom é o Senhor, que por meio do Seu Espírito nos guia a todos e conduz sempre a sua Igreja para o caminho da verdade. Por isso, não há nada a temer! 

A Igreja na sua longa tradição não ama as visões hegemônicas, totalitárias ou que não valorizam antes de tudo a pessoa, reconhecendo o seu ser livre como imagem e semelhança de Deus. Por isso, a Doutrina Social da Igreja dá precedência à pessoa em relação ao Estado. A Encíclica Lumem Gentium lembra que “o Espírito habita na Igreja e nos corações dos fiéis, como num templo: neles, ora e dá testemunho de que são filhos adotivos. Leva a Igreja ao conhecimento da verdade total, unifica-a na comunhão e no ministério, dota-a e dirige-a com diversos dons hierárquicos e carismáticos, e embeleza-a com seus frutos” (cap. I, 4). 

E, ainda, ressalta a importância de se reconhecer o sacerdócio comum existente entre os presbíteros e os leigos: “Assim, todos os discípulos de Cristo, perseverando na oração e no louvor de Deus, ofereçam-se também a si mesmos como hóstia viva, santa, agradável a Deus; deem testemunho de Cristo em toda a parte; e, àqueles que por isso se interessarem, falem da esperança que possuem, na vida eterna. O sacerdócio comum dos fiéis e o sacerdócio ministerial ou hierárquico, apesar de diferirem entre si essencialmente e não apenas em grau, ordenam-se um para o outro mutuamente; de fato, ambos participam, cada qual a seu modo, do sacerdócio único de Cristo” (cap. II, 10). 

Por fim, urge dizer que as redes sociais, embora sejam instrumentos que facilitaram enormemente a difusão de informação e ideias, não substituem o encontro pessoal e a dinâmica deste e, por isso, não são instrumentos privilegiados para o exercício da comunhão e do diálogo dinâmico nem tampouco facilitam uma amizade operativa para construção de um caminho comum. 

Que as redes sociais não sejam uma armadilha que crie divisão e suspeita mútua, mas uma provocação a um caminho na caridade e, por isso, verdadeiramente, eclesial! É o que exortamos a todos.

Arte: Sergio Ricciuto Conte
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