Fé e Cidadania

A fé, o sentido da vida e as políticas públicas

Um recém-publicado estudo da Oxfam Brasil e do Instituto Datafolha traz alguns resultados muito apropriados para nossa reflexão de Páscoa, num ano em que a Campanha da Fraternidade versa sobre políticas públicas.

Interrogados sobre quais, entre oito fatores sugeridos pelos pesquisadores, seriam os mais importantes para uma vida melhor, 28% dos entrevistados colocaram em primeiro lugar a opção “fé religiosa”. Comparativamente, ganhar mais dinheiro foi escolhida por 8% dos entrevistados e crescer no trabalho por 11%.

Ao olhar o conjunto das respostas, quatro opções estavam entre os três fatores mais importantes para uma vida melhor, segundo cerca de 50% dos entrevistados. Além da fé religiosa, estavam entre os fatores mais importantes: ter acesso ao atendimento de saúde, estudar e crescer no trabalho.

Isso mostra a importância que o brasileiro dá para saúde e educação, duas áreas vitais no traçado das políticas públicas. Crescer no trabalho pode parecer um fator individual, porém, sem políticas governamentais que favoreçam o desenvolvimento econômico, os esforços pessoais se perdem e não são recompensados no mercado de trabalho.

Olhar nossos irmãos e nós mesmos com amor implica estar atentos àquilo que é importante para eles. Procurar refletir sobre as políticas públicas, à luz dessas expectativas da maioria do povo brasileiro, é um dever de todos nós, para que possamos cumprir o imperativo cristão do amor ao próximo.

O ponto que mais chamou a atenção dos pesquisadores e dos veículos que noticiaram esse estudo, no entanto, foi a grande importância dada à “fé religiosa”. Ainda hoje, será que o “ópio do povo” é tão relevante para a população? Será que essa importância é consequência da chamada teologia da prosperidade? Uma ilusão que permanece?

A primeira função social de uma fé religiosa é ligar a pessoa, em seu transitório e incerto aqui e agora, com a divindade, com Aquele que é para todo o sempre, seguro e garantido. A religião confere um sentido à vida, ordena o caos aparente da existência, explica o viver e o morrer, o amar e o ser amado.

Particularmente no contexto do Cristianismo (contudo não exclusivamente nele), a religião insere a existência humana no contexto de um amor capaz de vencer a morte. Assim, vence o medo da morte – e quem deixa de temer a morte também deixa de temer a vida.

Quem diz que a fé religiosa é importante para uma vida melhor não está se autoenganando. Pelo contrário, está afirmando a importância de uma conduta racional, orientada por valores confiáveis e por uma verdadeira experiência de amor.

Os cristãos acreditam que a fé em Jesus é aquela verdadeira e que mais promove a humanidade de cada um. Mas o fato é que ter uma fé religiosa sadia, seja qual for, é sempre melhor que não ter nenhuma. Isso explica, inclusive, por que muitos ateus seguem seus ideais com uma convicção que parece religiosa.

Movido pelo amor à pessoa, o Cristianismo é uma fé que incentiva seu protagonismo na vida social e não deseja que ninguém sofra carências materiais. Isso leva os cristãos a se dedicar às obras assistenciais e à política, entendida como construção do bem comum. É a razão de ser da última das Campanhas da Fraternidade.

Contudo, não podemos nunca nos esquecer que o anúncio do amor de Deus, que – por nós – não poupou nem mesmo seu Filho, é o grande sentido de nossa vida e de nosso caminho cristão, a justa perspectiva para qualquer empenho no mundo.

Francisco Borba Ribeiro Neto, sociólogo e biólogo, é coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP
 

LEIA TAMBÉM: A via crucis e a vida nova

 

Para pesquisar, digite abaixo e tecle enter.