Opinião

A educação integral, a solidariedade e a participação

Índices sociométricos usados em pesquisas internacionais (como o Índice de Desenvolvimento Humano - IDH) sempre devem ser vistos com cuidado, dado seu esquematismo e a incerteza de alguns dados. Contudo, são importantes para situar os países no contexto mundial.
Entre os muitos índices em que o Brasil, infelizmente, vai mal estão o Índice de Solidariedade Mundial, elaborado pela Charities Aid Foundation, e um recentemente publicado Índice de Tendência ao Populismo, elaborado pelo jornal The Guardian e a Universidade de Cambridge. O brasileiro, segundo esses indicadores, é pouco envolvido em ações sociais pelo bem comum e adepto de opções políticas populistas.
Antes de entrarmos em maiores polêmicas, é bom saber que o termo populismo aqui indica a crença de que as elites são corruptas e não se interessam pelo povo, e que é necessário um líder político forte para resolver os problemas nacionais. Independentemente de rótulos e estereótipos, não se pode negar que essa é uma mentalidade muito difusa hoje em dia no Brasil. Seus limites são a redução da participação e da responsabilidade política da pessoa, além de certo estímulo ao individualismo.
A ideia de que não somos um povo solidário nos parece mais estranha. Acolhida, amizade, coesão familiar, apoio aos que sofrem são consideradas marcas profundas de nossa tradição cultural. No entanto, essas características são facilmente perdidas nas sociedades atuais, seja pela mentalidade individualista, seja pela dificuldade de se manter os laços pessoais na vida agitada e conturbada que vivemos. Nessas condições, outras formas de solidariedade se tornam necessárias, geralmente associadas ao engajamento e financiamento de projetos sociais, trabalhos de voluntariado e movimentos solidários.
O povo brasileiro, em particular, tem uma longa tradição de pouca participação na vida política, com o Estado e o poder compartilhados apenas por pequenas elites. Isso explica boa parte dessa falta de solidariedade e de participação num contexto em que a ação institucionalizada se torna mais necessária.
Polarizações ideológicas, como esquerda e direita, progressista e conservador, não dão conta dessas questões. Pessoas solidárias ou individualistas, populistas ou não, existem em todos os lados dos espectros ideológicos. Com maior ou menor razão, em alguma situação todos nos comportamos de um jeito ou de outro, mesmo que de forma involuntária.
A Doutrina Social da Igreja nos convida sempre à solidariedade, à participação e à responsabilidade na vida pública. O caminho para crescer nessas dimensões passa obrigatoriamente por uma educação integral da pessoa e da sociedade. Trata-se de ajudar cada um de nós e nossos filhos a viver mais e melhor essas dimensões, bem como criar estruturas sociais e políticas capazes de assimilar pessoas mais protagonistas e comprometidas com o bem comum.
Os grandes obstáculos intelectuais para essa educação integral são as ideologias. Tanto a educação para a solidariedade quanto a educação em valores se desencaminham quando se submetem a plataformas ideológicas.
Ideologias não são vencidas por outras ideologias de sinal contrário, mas, sim, por uma visão mais integral da realidade e da pessoa.
Muitas entidades públicas e organizações sociais no Brasil têm se empenhado em uma educação para a solidariedade e para a participação responsável na sociedade, porém ainda há muito a fazer. Os cristãos podem colaborar muito nesse processo, a partir de um amor iluminado pela verdade, numa perspectiva integral.

Francisco Borba Ribeiro Neto, sociólogo e biólogo, é coordenador do Núcleo Fé e Cultura da PUC-SP

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